sexta-feira, 23 de junho de 2017

OBRA DE JOMAV | Prisão de “Manecas” é "deplorável" e mostra "medo" do poder guineense



Detenção de Manuel dos Santos ("Manecas") é "deplorável" e demonstra receio que o poder político da Guiné-Bissau tem "até da própria sombra", afirma escritor e jornalista Tony Tcheka.

"A detenção de Manecas Santos é deplorável e motivo de uma enorme indignação. Nenhum cidadão guineense, independentemente das suas razões e questões ideológicas, pode estar tranquilo com uma atitude dessa natureza", sublinhou à agência de notícias Lusa o também vice-presidente da Associação de Escritores da Guiné-Bissau (AEGB).

A detenção na segunda-feira (19.06.) de "Manecas" Santos surgiu na sequência de uma entrevista dada em abril ao jornal português Diário de Notícias, em que o veterano comandante, de naturalidade cabo-verdiana, alertou para a possibilidade, face ao impasse político vigente há cerca de dois anos, de um novo golpe militar na Guiné-Bissau.

O veterano da luta armada pela independência da Guiné-Bissau tinha sido ouvido, há cerca de um mês, pelo Ministério Público, em Bissau, para esclarecer as declarações.

Motivações políticas?

Questionado esta terça-feira (20.06.) pela Lusa, Tony Tcheka, afirmou não ver qualquer outra razão para a detenção de "Manecas" Santos que não "motivações políticas".

"Trata-se de uma perseguição feita em lume brando, hoje isto, amanhã aquilo. Qual o mal que tem um homem que, com o passado de Manecas Santos, vivendo na Guiné-Bissau, faça uma análise da situação social e política", questionou.

"O grande crime de 'Manecas' Santos é que as circunstâncias, tudo o que envolve a Guiné-Bissau de hoje, pode indiciar situações mais complicadas, entre elas a possibilidade de um golpe de Estado. Temos um passado recente complexo, sabemos como foi o conflito político-militar de 1998/99, como aconteceu, Manecas Santos estava presente no terreno, de maneira que nada melhor do que alertar", acrescentou.

Tony Tcheka salientou, por outro lado, a ideia de que quem pretende levar a cabo um golpe de Estado não o anuncia.

"Quem vai dar um golpe de Estado, quem está alinhado em golpes de Estado, não ameaça nem diz que vai fazer um golpe de Estado. 'Manecas' não disse que vai dar, ou que vai participar ou que faz a apologia do Golpe de Estado. Simplesmente disse que o cenário existente pode conduzir a uma situação de golpe de Estado", explicou.

Guiné-Bissau sob a batuta de Jomav

Para o jornalista, escritor e poeta guineense, os "atuais senhores" da Guiné-Bissau "acabam por ter medo de tudo e todos, até da própria sombra".

"Têm tudo o que é poder, o que são forças da Nação, ao seu serviço, não em defesa da Constituição da República, não em defesa das leis, mas sim em defesa dos seus próprios interesses. Quem não alinha nesse festim, quem não bate palmas, automaticamente é eleito como inimigo a abater, a eliminar".

"Isso é deplorável, é lamentável, e mostra exatamente os caminhos por que a Guiné-Bissau está a seguir sob a batuta do Presidente da República", José Mário Vaz, concluiu.

PAICV apela à libertação "imediata e incondicional" de 'Manecas'

O Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) apelou esta terça-feira (20.06.) à libertação "imediata e incondicional" de 'Manecas' Santos, classificando a sua detenção como um "ato inqualificável" e "injustificado" que configura "violação dos direitos humanos".

"A detenção do comandante 'Manecas' Santos, uma figura carismática da luta de libertação nacional de Cabo Verde e da Guiné-Bissau, é um ato inqualificável, que demonstra uma grande falta de respeito e uma vã tentativa de humilhar um alto dirigente do PAIGC", considerou o PAICV em comunicado.

Para o PAICV, mandar deter 'Manecas' Santos, por "ter emitido uma opinião, enquanto cidadão, e numa sociedade que se diz livre, democrática e pluralista, consubstancia um ato injustificável e com laivos de autoritarismo, e constitui, ademais, uma grave violação dos direitos humanos".

Por isso, os responsáveis do partido cabo-verdiano condenam o que consideram uma "detenção ilegal", solidarizam-se com 'Manecas' Santos e apelam "à sua libertação imediata e incondicional". 

Agência Lusa | Deutsche Welle

Imagem | Foto de arquivo: Manuel dos Santos "Manecas" ao lado de Amílcar Cabral (esq.) (1972)

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